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LINHA DE ARREBENTAÇÃO | 2024 | Claudio Cretti e Flora Rebollo | 25M

Linha de arrebentação propõe um diálogo entre os artistas Flora Rebollo e Claudio Cretti, cujas obras combinam objetos e fragmentos colecionados e criados ao longo dos anos, resultando em esculturas-desenhos que se expandem e habitam o espaço expositivo da 25M. O título, inspirado em um poema de Ana Martins Marques, reflete sobre detritos e objetos trazidos pelas ondas, em um estado de "vir a ser", à espera de novas relações e significados. Nesse encontro, os artistas exploram desenho espacial, repetição e articulação, com criaturas que invadem e habitam o espaço.

 

Flora Rebollo (São Paulo, SP, 1983) parte da escala das mãos para composições expansivas, explorando fragmentos do cotidiano que, em suas mãos, ganham novas forma de existir. Em Tererê (2021), por exemplo, uma grande espiral de coisinhas variadas - como bitucas, pipocas, sementes, objetos amassados, brinquinhos e conchinhas – se esparrama pelo chão da galeria, criando uma trama que convida à observação tátil. Trata-se de um jogo entre o visível e o palpável, ressoando memórias táteis e gestos repetitivos. Noutro canto da galeria, um grande círculo construído por uma sequência de pontinhas de lápis grafite - Desenho (2021) - desafia o desenho tradicional, remetendo ao toque das mãos, o íntimo, ou as pequenas relíquias do dia.

 

Claudio Cretti (Belém, PA, 1964) desconstroi e reorganiza objetos, formando peculiares composições que preservam a memória de suas origens ao mesmo tempo em que ganham novos significados no presente. Em Sem título, da série Mafuá de trens (2022), o artista articula partes de cachimbos de jurema em uma grande estrutura pendente, composta de fornilhos de cachimbos rodeados por tentáculos de piteiras que se estendem do teto ao chão. Na obra Sem título, da série Pingente (2024), feltros de pratos de bateria de intensas cores - preta, branca e vermelha - se intercalam com peças de cerâmica e delicadas agulhas de madeira, desenhando um pendente que combina elementos da natureza, da cultura material brasileira e de objetos industrializados. Cretti provoca, assim, um diálogo entre o artesanal e o industrial, o orgânico e o cultural.

 

Esses trabalhos, tanto de Rebollo quanto de Cretti, permanecem em suspensão, desenhando-se e desfiando-se entre o desenho e a escultura, ou entre o fixo e o fluido. Parecem desejar escapar dos limites rígidos, lançando-se para além da linha de arrebentação. Pelas relações entre corpo, cultura e tempo, transitam entre o passado e o presente, entre a memória e a transformação.

 

 

Giovanna Bragaglia

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