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ESSE ANO A NOITE PRETA PEGA A PORTA | 2018 | Oficina cultural Oswald de Andrade | Curatorship: Julia Coelho & Renan Araújo

ESSA NOITE A NOITE PRETA PEGA A PORTA

 

Intitulado “O Trovador do Apocalipse” ou “O Bob Dylan do Nordeste”, Zé Ramalho é um dos mais importantes cantores e compositores brasileiros. Não tão celebrado quanto outros artistas de sua geração como Caetano Veloso ou Gilberto Gil, e tampouco incorporado pela lógica da arte contemporânea, Zé Ramalho ainda parece habitar um lugar de sombras, como uma figura caricata e vampiresca. O cantor teve um importante papel na elaboração de um Nordeste musical liberto da imagem tradicionalista e purista que, nos anos de 1970, era e ainda hoje é uma demanda nacional e internacional. Suas composições trazem as marcas das músicas de Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, de violeiros e cantadores, fundidas ao rock de Renato & Seus Blue Caps, Roberto e Erasmo Carlos e dos astros de Woodstock. Nascido em Brejo do Cruz, no interior da Paraíba (1949) e crescido em Campina Grande e João Pessoa, capital do estado, Zé Ramalho sempre esteve conectado a misticismos sertanejos, incorporando em suas canções uma atmosfera extraterrestre e extraterrena, das histórias de OVNIS e cogumelos alucinógenos que eram encontrados nos pastos áridos do sertão. Tais interesses estão frequentemente associados a preocupações políticas, sociais e filosóficas, corporificadas em sua linguagem, performance e persona.

Seus dois primeiros discos Zé Ramalho (participação do tecladista da banda YES, Patrick Moraz, na faixa “Avôhai”) de 1978 e A Peleja do Diabo com o Dono do Céu (cenário e fotos da capa por Ivan Cardoso, participações especiais de Zé do Caixão e Hélio Oiticica) de 1979 são importantes registros da maneira como abordava essas preocupações através da aproximação entre aspectos da psicodelia, do violão acústico, do cinema de horror e da poesia. No ano de 2003, Dança das Borboletas, música de seu primeiro disco, ganhou uma versão mais carregada e sombria, parceria de Ramalho com a banda de Heavy Metal Sepultura, indicando mais uma vez sua força em justapor imagens complexas e produzir cenários pouco previsíveis.

A exposição não pretende ilustrar a vida e obra de Zé Ramalho, o cantor atua no projeto como uma espécie de assombração, sendo a atmosfera que sua figura evoca o argumento curatorial da mostra.

Os trabalhos reunidos giram em torno de conceitos como sombras, caverna, gigante, coruja, messiânico, vampiro, trevas, solidão e bravura, sobrenatural, drama, noite, lua vermelha, gestos simbólicos, cordel/narrativa, transcendental, profecia, poeta, cinema de horror, interativida- de energética, cantadores e violeiros, presença alienígena, cultura dos vaqueiros, isolamento. Juntos, compõem um pequeno jogo de pistas para o que se prenuncia sob a aridez do sol a pino ou sob a escuridão total da noite preta.

 

Júlia Coelho e Renan Araújo

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